Reclassificação

Repertório Sistematizado Sucinto

Repertório Homeopático

Seja o parágrafo 26 do livro Organon de Samuel Hahnemann:

“… Uma afecção dinâmica mais fraca é extinta de modo duradouro no organismo vivo por outra mais forte, quando esta (embora de espécie diferente) seja muito semelhante àquela em suas manifestações…”

A partir desse princípio geral da homeopatia, acima, levando em conta a síndrome mínima de valor máximo (SMVM) é que devem ser feitas todas as repertorizações e prescrições homeopáticas, porém, o método a seguir proposto por este autor pode vir a ter utilidade…

Pelo sistema quaternário de repertório homeopático, o indivíduo pode apresentar qualquer combinação entre os quatro grupos de classificação fisiopatológica, sendo possível apresentar o humor de determinado grupo e a morfologia de outro grupo, bem como quaisquer outros arranjos entre os quatro conjuntos.

Cada componente em rubrica de personalidade confere um ponto, sendo que ao final da repertorização, conforme o maior número de pontos de determinado grupo de rubricas ou categoria, estará indicado um remédio da classe do Psorinum, do Medorrhinum, do Luesinum ou do Tuberculinum…

1) Classe de Rubricas do Psorinum (Sulphur e outros fármacos que sejam correspondentes à Psora, a exemplo do Argentum nitricum):

Sejam os seguintes componentes em rubricas…

1.1) Componente aristotélico e hipocrático (da Grécia antiga): Elemento ar, predomínio do princípio da mente (por exemplo, a neurose da angústia referida por Tomás Pablo Paschero no século XX na Argentina).

1.2) Humor hipocrático e galênico (da Grécia antiga e da Roma antiga): Sangue, humor sanguíneo, de afecções hematológicas e alérgicas.

1.3) Temperamento galênico e neohipocrático (da Roma antiga e do neohipocratismo de Paul Carton da França no século XX): Humor do sangue, temperamento sanguíneo e respiratório, caráter social.

1.4) Morfologia de Eduard von Grauvogl (da Alemanha no século XIX): Nitrogenoide ou carbonitrogenoide.

1.5) Constituição homeopática: Sulfúrica de Bernard (da França no século XX).

1.6) Ontogenética homeopática: Ectoblástica ou ectodérmica por William Sheldon (dos Estados Unidos da América, USA no século XX) com biotipologia mesomórfica (normolíneo à ectoscopia) ou idade adolescente.

2) Categoria de Rubricas do Medorrhinum (Thuya e outros remédios vegetais ou que correspondam à Sicose ou ao Artritismo, a exemplo do Graphites, da Calcarea carbonica e do Cerium oxalicum):

Sejam os componentes em rubricas a seguir…

2.1) Componente aristotélico e hipocrático (da Grécia antiga): Elemento água, predomínio do princípio da alma (por exemplo, as desordens hereditárias de origem moral por James Tyler Kent dos Estados Unidos da América, USA, nos séculos XIX e XX).

2.2) Humor hipocrático e galênico (da Grécia antiga e da Roma antiga): Linfa, humor linfático, de afecções imunológicas e metabólicas.

2.3) Temperamento galênico e neohipocrático (da Roma antiga e do neohipocratismo de Paul Carton da França no século XX): Humor da linfa, temperamento fleumático e digestivo, caráter sonhador.

2.4) Morfologia de Eduard von Grauvogl (da Alemanha no século XIX): Hidrogenoide.

2.5) Constituição homeopática: Carbônica de Nebel (da Suíça no século XX) e Vannier (da França no século XX).

2.6) Ontogenética homeopática: Endoderma ou endoblasto da classificação de William Sheldon (USA, século XX) com biotipo endomórfico (brevilíneo à ectoscopia) ou idade infantil.

3) Categoria do Luesinum (Mercurius solubilis e outros medicamentos metálicos e semimetálicos ou luéticos, a exemplo de Metallum album, Tellurium, Silicea e Antimonium crudum):

Sejam as seguintes rubricas…

3.1) Componente aristotélico e hipocrático (da Grécia antiga): Elemento terra, princípio do corpo (no luetismo as perturbações são lesionais, ou seja, estruturais e não apenas disfuncionais, o que indica afecções anatômicas, quer dizer, do corpo).

3.2) Componente humoral de Hipócrates e Galeno (da Grécia antiga e da Roma antiga): Atrabile, humor melancólico, de afecções escleróticas e nervosas.

3.3) Temperamento galênico e neohipocrático (da Roma antiga e do neohipocratismo de Paul Carton da França no século XX): Humor atrabiliar, de temperamento melancólico e nervoso, caráter depressivo.

3.4) Morfologia de Eduard von Grauvogl (da Alemanha no século XIX): Oxigenoide, posteriormente classificado como halogenoide.

3.5) Constituição homeopática: Fluórica de Nebel e Vannier (da Suíça e da França no século XX).

3.6) Ontogenética homeopática: Cordoblástica por Marcel Martiny (da França no século XX) com biotipologia dismórfica (a ectoscopia mostra traços de dismorfismo) ou idade avançada.

4) Classe do Tuberculinum (Phosphorus e outros remédios tuberculínicos, tais como Natrum muriaticum, Sepia officinalis, Selenium e Stannum iodatum):

Sejam os componentes a seguir…

4.1) Componente aristotélico e hipocrático (da Grécia antiga): Elemento fogo, princípio do espírito (no tuberculinismo as perturbações classicamente afetavam indivíduos de ideais espirituais, poéticos e românticos ou inquietos e aventureiros).

4.2) Componente humoral de Hipócrates e Galeno (da Grécia antiga e da Roma antiga): Bile, humor bilioso ou colérico, de afecções violentas ou febris.

4.3) Temperamento galênico e neohipocrático (da Roma antiga e do neohipocratismo de Paul Carton da França no século XX): Humor biliar ou bilioso, de temperamento colérico e muscular, caráter idealista.

4.4) Morfologia de Eduard von Grauvogl (da Alemanha no século XIX): Oxigenoide.

4.5) Constituição homeopática: Fosfórica por Nebel e Vannier (respectivamente da Suíça e da França no século XX).

4.6) Ontogenética homeopática: Mesododerma ou mesoblasto da classificação de William Sheldon (USA, século XX) com biotipo ectomórfico (a ectoscopia evidencia o indivíduo longilíneo) ou idade adulta.

Considerações adicionais:

A sistematização descrita acima não se adequa aos princípios adotados por Paracelso, visto que esse médico suíço da transição entre a idade média e moderna adotava outros conceitos para os elementos aristotélicos, refutando a teoria humoral de Hipócrates e temperamental de Galeno, embora normalmente não fosse contrário às outras abordagens de suas obras.

Segundo Paracelso, que além de médico era alquimista, o princípio da combustão estava associado ao enxofre (remédio homeopático Sulphur), o princípio sólido correspondia ao sal marinho (remédio homeopático Natrum muriaticum) e o princípio líquido ao mercúrio (medicamento homeopático Mercurius solubilis).

Essa ideia de estudar os princípios elementares por sua natureza sólida, líquida e gasosa (ou plasmática, originária da combustão) não deve ser desprezada, ademais, sua teoria das assinaturas pode ser vista como precursora da doutrina de tratamento do semelhante pelo semelhante (similia similibus curantur) que é típica da homeopatia.

Por fim, convém ressaltar mais uma vez a importância da síndrome mínima de valor máximo (SMVM) a qual se trata de um pequeno conjunto de sinais e sintomas característicos e peculiares, típico do caráter individual e não necessariamente da patologia, que deve prevalecer em toda e qualquer prescrição homeopática.

Tríade Metabólica:

Quando se leva em conta uma repertorização metabólica, cada estado trófico pode comportar três opções medicamentosas principais, as quais podem estar associados a remédios episódicos em alguma etapa do tratamento:

Estado Hipertrófico: Ammonium, Antimonium, Aurum, Calcarea e Strontium.

Estado Eutrófico: Argentum, Arsenicum, Selenium, Sulphur e Tellurium.

Estado Hipotrófico: Cuprum, Phosphorus, Silicea, Stannum e Zincum.

Dr. Paulo Venturelli